RESENHA DE DEZEMBRO: CECÍLIA MEIRELES


Nossa última roda de 2012 foi simplesmente sensacional!!!!

Fechamos com chave de ouro com a poetisa, educadora, pintora, cronista, enfim, com essa mulher tão especial e talentosa, que é Cecília Meireles.


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Entre “Ou isto ou aquilo”, ficamos com tudo e mais um pouco do universo das suas poesias e suas crônicas, que lemos e ouvimos nesta tarde fantástica. Uma roda de amigos gostosa, aos sabores e lembranças dos lanches e das memórias nossas infâncias.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Histórias trocadas, reminiscências compartilhadas, poesias declamadas, crônicas que nos divertiram, encantamentos que nos inspiraram e reafirmaram em todos nós o desejo e a vontade de viver essa roda em 2013, 2014 .... enquanto nos for possível.

Roda gira, gira a roda, “giroflê, giroflá”, não queremos deixar a roda parar de girar.

Estiveram presentes em nossa roda, além de Cecília, Gonzaguinha, Gonzagão, Gil, Caetano, Chico, uma “velhinha rabugenta” (presente recebido ontem por Heli e muito apreciado), muitas lembranças da infância, mães, pais, tios, avós, enfim, girou de tudo nesta roda! Nos deixamos livres e à vontade para percorrer passado, presente e futuro!

Para finalizar, presenteamos uns aos outros com belas mensagens escritas com muito carinho, de contador para contador, melhor ainda, de amigo para amigo!

“Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.”

É essa a roda da vida. É essa a vida no Roda.

Um grande abraço, boas festas e um ano novo novinho cheio de invenções e muitas rodas!

Tom e Selma

RESENHA DE NOVEMBRO: BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS


Foi para todos nós um grande presente mergulhar na obra, no pensamento e no universo da palavra de Bartolomeu Campos de Queirós. Mesmo para aqueles que já conheciam dele algum texto ou livro, a descoberta da riqueza instigante e inspiradora do que ele deixou foi de deixar a todos fascinados. Cada vez que nós líamos e ouvíamos as suas ideias ficávamos encantados com a simplicidade e ao mesmo tempo a profundidade com que ele pensou, trabalhou e batalhou pela disseminação e popularização da literatura e pela busca de uma melhor qualidade da educação brasileira.

Bartolomeu defendeu a necessidade de a escola redescobrir o seu papel de formação e transformação do indivíduo, de como formar crianças leitoras, do encantamento que as palavras causam, da literatura como um lugar de dúvidas.

“Devo o meu gosto pela palavra também ao meu avô. Talvez ele tenha me alfabetizado. Meu avô morava em Pitangui, uma cidade perto de Papagaio, ganhou a sorte grande na loteria e nunca mais trabalhou. Ele cultivou uma preguiça absoluta. Levantava pela manhã, vestia terno, gravata e se debruçava na janela. Todo mundo que passava falava: “Ô, seu Queirós!”. Ele falava: “Tem dó de nós”. Só isso. O dia inteiro. Tudo o que acontecia na cidade, ele escrevia nas paredes de casa. Quem morreu, quem matou, quem visitou, quem viajou. Fui alfabetizado nas paredes do meu avô. Eu perguntava que palavra é essa, que palavra é aquela. Eu escrevia no muro a palavra com carvão, repetia. Ele ia lá para ver se estava certo. Na parede da casa dele, somente ele podia escrever. Eu só podia escrever no muro. Esse meu avô tinha um gosto absoluto pela palavra e era muito irreverente.” (...)

“Meu avô tinha um encantamento com as palavras. Eu fui aprendendo com ele a cultivar esse encantamento. Já fui criado com a metáfora. Tive uma infância junto com as metáforas.” (...)

 “A metáfora é muito interessante para o escritor. A metáfora é onde o escritor se esconde e põe asas no leitor. Pela metáfora, eu me escondo, mas ao mesmo tempo ponho asas no leitor. Vai aonde você quiser. Você está livre para romper com tudo. Acho que o leitor é tão criador quanto o escritor. O leitor cria muito. Você gosta de uma obra não pelo que está escrito, mas pelo lugar que ela o levou a pensar. Isso é muito interessante. Michel Foucault fala que o que lemos não é a frase que está escrita. Lemos o silêncio que existe entre as palavras. É ali que a literatura se faz.” (...)

“Acho que a criança quando entra na escola, não aprende porque vai prestar concurso, vestibular, nada disso. Ela aprende para ser amada por aquele que sabe. E o professor é aquele que sabe e ela quer ser amada por aquele que sabe. Acho que a aprendizagem no início da infância está na ordem puramente do afetivo.” (...)

... “Ouvir uma música tão bonita às vezes pode arrepiar o meu corpo. Então, ouvir também é tátil. No gosto, posso acordar a memória. Então, o homem é uma coisa inteira, não é dividida em apenas cinco sentidos. Quando se trabalha com a infância é muito bom nos policiarmos sobre o olhar que destinamos ao outro e que muitas vezes interdita o outro. Não permite que a liberdade se faça ali. As crianças precisam muito de nós, adultos. Elas precisam muito de nós para crescer e elas sabem disso. É importante e bom fazermos essa leitura.” (...)

“O homem é o único animal que pode ser educado. Todos os outros animais podem ser adestrados. Educar pressupõe deixar o outro ser dono do seu próprio destino. A educação se faz pela liberdade. Liberdade que você dá ao outro para que ele escolha o seu destino. Vejo que os processos de educação, o que chamamos de escola, não deixam de ser processos de adestramento. Não é uma educação plena, é um processo de adestramento. É uma criança sujeita ao desejo do professor. E é o professor sujeito ao desejo do poder político. Então, a criança é sem autonomia. Ela deveria ser o senhor da coisa. No entanto, é o objeto. A escola não forma o leitor de literatura. A escola só ensina.” (...)


“A escola brasileira, da década de 1960 para cá, ficou unicamente tentando ensinar só o que é mensurável. Entrou no regime da economia, dos números. Há coisas na educação que não podem ser mensuráveis, são intuitivas, estão no campo da percepção, do afeto. Isso foi tudo jogado fora.
... não se pode falar de honestidade porque não é mensurável; não se pode falar de fraternidade e amor, pois não são mensuráveis. A literatura, como não é mensurável, perde totalmente o sentido.” (...)

“É muito interessante porque quando começa a ditadura, a literatura se torna muito importante. Todas as escolas liam uma história considerada literatura. Era uma história de um passarinho que estava preso em uma gaiola e todo o dia de manhã a criança levantava, trocava o alpiste, a aguinha, e o passarinho cantava, cantava. Um dia, o menino esqueceu a porta aberta e o passarinho voou e foi para cima de uma árvore. Aí, cai uma chuva forte e ele precisa se esconder em uma calha do telhado, vem um gato e avança. Ele corre para o esgoto e vem um rato. Até que o passarinho não agüenta essa liberdade e volta para a gaiola, fecha a portinha e continua cantando muito feliz. É isso que a ditadura quis falar que era literatura. Isso circulou no Brasil de cabo a rabo. Era a grande obra literária.” (...)

E foi assim, entre suas histórias e seus pensamentos, que passamos uma tarde sem nem perceber o tempo passar: Foi um “Tempo de Vôo”! Suas palavras fascinam e, encantados, ficamos querendo mais e com certeza mais encantamentos viriam. Gostaríamos de incitar a todos a buscar mais de Bartolomeu, suas idéias, sua forma ímpar de escrever e dialogar com o leitor. Uma boa dica, para começar, é acessar o link abaixo:
http://rascunho.gazetadopovo.com.br/bartolomeu-campos-de-queiros/

Procure também informações sobre o Movimento por um Brasil Literário idealizado por ele. Quem quiser fazê-lo pode entrar no site (www.brasilliterario.org.br).


Próximo Roda Palavra

Tema: Cecília Meireles
Dia: 04 de dezembro – 14:00 horas
Leitor-guia: Valdice