Julho/2017 - Histórias para adolescentes

Em nossa rotina de voluntários em Hospital, frequentemente nos deparamos com adolescentes ou quase adolescentes que torcem o nariz quando nos apresentamos como Contadores de Histórias.
Frases como "não sou mais criança", "historinha é coisa para criança", "se eu ouvir história vou dormir" e até mesmo "não gosto de histórias" são pronunciadas como recusa ao nosso oferecimento. Explorando um pouco mais os motivos de tais reações descobrimos que estes quase adultos tiveram uma infância pobre de pessoas que lhes contassem histórias. Quando perguntamos quem lhes conta ou contava histórias, é comum ouvirmos "ninguém". Nem pais, nem avós, nem mesmo professores marcaram a biografia destes adolescentes com a riqueza das cores e emoções, da imaginação e fantasia oferecidas pelas histórias. Ainda ouvimos de seus acompanhantes que eles costumavam ouvir muitas histórias quando crianças mas que não repassaram para seus filhos e netos.

Para atrair a atenção ou conquistar o interesse de tais adolescentes é preciso lançar mão de alguns artifícios e, principalmente, ter histórias muito interessantes para oferecer. O propósito de nossa Roda de julho foi justamente trocar nossas experiências com adolescentes e histórias capazes de conquistar o interesse até mesmo dos mais renitentes.

Alguns artifícios comumente usados pelos contadores como charadas, piadas e desafios têm a intenção de vencer a resistência inicial, mostrar-lhes que histórias podem ser interessantes, divertidas e uma  boa companhia em qualquer idade. Vencida essa barreira inicial, comumente se abre espaço para a aceitação das histórias oferecidas pelo contador. 
Adolescentes resistentes que dividem o quarto com outro paciente (criança ou adolescente) que aceita a contação da história, muitas vezes são conquistados "indiretamente" ao ouvir a história que está sendo contada para o companheiro de quarto. O que abre a oportunidade para uma história ser contada "diretamente" para eles.
Esta mesma estratégia, às vezes pode ser usada oferecendo a história para o acompanhante (pai, mãe, avós, tios) que acabam sendo parceiros nesta conquista.
Uma outra estratégia é desafiá-los a ouvir uma única história, e usar esta oportunidade contando uma história curta e com muito humor. Se o efeito for bom, se a história for bem aceita, nos próximos encontros, a resistência será menor ou nem existirá, o que permitirá ao contador usar outros textos. Contos judaicos (carregados de humor e ironia), contos de Nasrudin ou Pedro Malasartes, "causos do interior" são excelentes aliados para uma primeira conquista.

Por outro lado, encontramos muitos adolescentes que se mostram receptivos e interessados em histórias desde o início e ser tornam consumidores vorazes das histórias que levamos, nos desafiando a buscar mais e mais histórias inéditas para alimentá-los.

Nossa missão no hospital é levar bons momentos para os pacientes, respeitando sempre o desejo de cada um. Não podemos jamais forçar ninguém a aceitar nossa contação, o que não impede de usarmos de alguma persuasão para mostrar que ouvir histórias é muito bom. Isso acontece com pacientes de qualquer idade, não só os adolescentes, como crianças também.


O prazer de conquistar um novo ouvinte é imenso, e se ele for um adolescente que até então não gostava de histórias, literatura, livros, é maior ainda. É muito gratificante a ideia de que podemos estar plantando uma sementinha que poderá render muitos frutos positivos.